Africa Africans – Arte Contemporânea

O projeto Africa Africans (que teve sua primeira etapa na 39ª edição do Sao Paulo Fashion Week, apresentando cinco estilistas africanos que você pode conferir com mais detalhes aqui) inaugurou no dia 25 de maio (Dia Internacional da Africa) a maior exposição de arte moderna africana já realizada em nosso país. A exposição (que acontece no Museu Afro Brasil) Africa Africans - Arte Contemporânea traz mais de 100 trabalhos de artistas nascidos, residentes ou inspirados pela bagagem estética e cultural do continente, que incluem instalações, pinturas, esculturas e outras linguagens que têm como objetivo traçar um panorama atual da produção visual e artística do continente por meio de obras de artistas de diversos países africanos.

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A exposição começa com o ensaio Shadows and Light do fotógrafo Christian Cravo.

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"Dos fotógrafos que conheço esse é talvez o mais obstinado. Suas fotos do Haiti traziam uma versão profunda da cultura e da vida daquele país tão negro quanto a África, tão religioso quanto o vodum do antigo reino do Dahomey, uma terra guerreira como se todos fossem filhos do deus Ogum, o mais guerreiro de todas as divindades yorubanas.

Agora seu retorno com uma nova suíte pensada não mais na civilização atlântica, mas numa africa profunda, não especificamente de usos e costumes de nenhum povo, mas uma terra luminosa, de luzes e sombras e de beleza tão dura quanto a sobrevivência de uma savana, onde a natureza modela a vida e a sobrevivência.

Assim é o fotógrafo Christiano Cravo, varando obstáculos, fazendo da fotografia mais forte que um exercício puro e simples, a expressão de um olhar voltado para a criação e para o momento, o tempo além do clique, além do olhar, além do registrar. Uma obra onde se acrescenta emoção, pulsação dos sentidos.

Bracos, cinzas, pretos, um todo composto abstrato, sintético, reducionista como a própria arte africana, com seus dogmas e a natureza de falar com suas próprias vozes e seus cantos e encantos."

 

Emanoel Araujo, Diretor Curador do Museu Afro-Brasil.

O baiano, que viveu até os 22 anos na Dinamarca por conta do casamento do pai brasileiro e mãe dinamarquesa, foi inserido no universo artístico cedo. Filho do artista plástico e fotógrafo Mário Cravo Neto, e neto do escultor Mário Cravo Junior, descobriu na fotografia sua paixão. Começou fotografando o nordeste brasileiro abordando temas como a realidade e religiosidade da região. Cravo se destaca como um dos mais bem sucedidos fotógrafos brasileiros das últimas décadas. A documentação da fé no interior do nordeste brasileiro e o trabalho realizado no Haiti são obras fundamentais da história da fotografia brasileira. E com a mesma dedicação que se entrega pelos mistérios da natureza humana, Cravo foi buscar experiências e vivências nas paisagens e animais do continente africano.

Shadows and Light é o resultado de sete incursões por cinco países africanos realizadas desde 2011. Em jornadas que duravam de 20 a 25 dias pela Namíbia, Botsuana, Zâmbia, Quênia e Tanzânia, Cravo entrava naquele que é o seu território de trabalho: a imersão fotográfica profunda e intensa. Não se trata de limites ou territórios geográficos. O espaço é mais simbólico. É onde a alma do fotógrafo encontra com o seu passado, sua raízes, suas motivações de viver e, também, procura novos caminhos e realizações (além de belas fotografias, claro!).

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A exposição continua com o ensaio, do fotógrafo austríaco Alfred Weidinger, The Last Kings of Africa.

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"A nobreza Africana difere em sua essência da Ocidental, com os aparatos de cadeias sucessórias e os diferentes títulos nobiliários da corte e seus mexericos. Na África, contudo, não deixa de haver os princípios de obediência, de temor e de servir ao rei - e até morrer com ele.

O rei pairava sobre seus súditos, com poder social e político sobre a vida e a morte; muitos eram enterrados com suas esposas e seus escravos, que muitas vezes eram enterrados vivos. Tinham o poder e confiavam na fidelidade do seu exército, frequentemente formado por mulheres guerreiras chamadas de Amazonas. Os Reis sempre aparecem ladeados por suas mulheres - as mais velhas com mais poder do que as mais novas. Eles andavam sempre protegidos da luz solar pelos enormes guarda-sóis coloridos com as insígnias do Rei; e ostentavam seus recades, suas jóias, seus adornos e seus tapetes, estes protegendo os pés por vezes descalços de sua alteza real.

A exposição "Espírito da África - Os Reis Africanos", do fotógrafo Alfred Weidinger, tem um grande significado para a história e a memória ancestral, já que esses líderes tribais não têm mais poder político, mas na sua essência decorativa são os conselheiros, lembrando a memória de uma África perversamente desfeita pelas novas divisões territoriais, que uniram diferentes etnias.

Este texto tem a intenção de reviver um tempo perdido onde Reis e Rainhas defendiam seus súditos, seus territórios e seus negócios de vendas e trocas com os europeus - portugueses, holandeses, franceses."

Emanoel Araujo, Diretor Curador do Museus Afro-Brasil.

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"A British Library (Biblioteca Britânica), obra de Yinka Shonibare MBE, é uma celebração à diversidade da população britânica. Esta instalação é dividida em duas partes: uma parte, usando iPads, explora as razões para a imigração por meio de um arquivo documental; a outra é composta por milhares de livros cobertos pelo tecido Dutch Wax, marca registrada do artista. Este tecido, identificado como africano mas inspirado no batik indonésio, produzido nos Países Baixos e na Inglaterra e depois vendido para compradores de países no oeste africano, se tornou, ironicamente, a partir da década de 60, símbolo da autenticidade e identidade africanas. São questões como estas, sugeridas pelo uso do Dutch Wax que Shonibare explora em suas obras: ambiguidade, hibridismo, colonialismo, pós-colonialismo, território, deslocamento e identidade cultural, entre outras.

Em British Library, o artista destaca o efeito da imigração em todos os aspectos da cultura britânica, da ciência à música, arte, cinema e literatura. Nas lombadas de uma grande parte dos 6.225 livros que compõem a obra estão impressos nomes de famosos imigrantes britânicos que trouxeram, ao longo da história, uma contribuição significativa em diversas áreas, como T.S. Eliot, Mick Jagger, os irmãos Liam e Noel Gallagher, Amartya Sena, Anish Kapoor, entre outros. Além disso, alguns livros apresentam nomes de figuras proeminentes que se opunham à imigração. Os pontos de vista de vários grupos anti-imigração da atualidade também são explorados na obra através de um arquivo de vídeo.

Desta forma, o projeto é uma celebração das contribuições à sociedade britânica dadas por pessoas que chegaram ali de outras partes do mundo ou cujos antepassados foram para a Grã-Bretanha como imigrantes, mas não exclui os pontos de vista daqueles que se opõem à ele. A "Biblioteca Britânica" é inspirada pelos atuais debates sobre imigração, como as reações do público quanto ao recente afrouxamento das restrições para cidadãos romenos e búlgaros. Portanto, o espaço dá voz tanto para aqueles que se opuseram à imigração britânica, quanto para esses "estrangeiros" que trouxeram uma contribuição valiosa para história desta nação".

Sobre a instalação The British Library.

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Curtiu? Confira mais do trabalho de Yinka Shonibere aqui

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Adeus à Cyprien
Segunda viagem ao Benin - Janeiro de 2012

"Fomos à Ouidah para ver a Festa do Vodu e a Porto Novo para ver a Festa do Bonfim, realizada pelos Agudás (descendentes dos brasileiros retornados à África). Fomos também à cidade de Abomey, onde vivia Cyprien Tokoudagba. A viagem foi terrível, um asfalto muito mal conservado e depois de quase quatro horas, já ao escurecer, chegamos à casa de Cyprien.

Para nossa surpresa, ele estava acamada, após ter sofrido um derrame cerebral. Não tínhamos ideia que naquela noite em Abomey abraçaríamos o Cyprien pela última vez. Era um abraço e um aperto de mão com o coração pequeno em vê-lo assim, vencido, na sua vulnerabilidade humana.

Agora, 5 de maio de 2012, soubemos que ele partiu definitivamente para sua ancestralidade.

Essa exposição representa um adeus e um tributo ao talento e à expressão estética desse grande artista do Benim, Cyprien Tokoudagba.

Emanoel Araujo, Maio de 2012. In Memorian Cyprien Tokoudagba,

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A Africa Africans - Arte Contemporânea finaliza com a exposição Les Arts Premiers que é uma celebração da história (de longa data) do continente que foi berço da humanidade. Além disso, o acervo do Museu Afro Brasil conta com bastante coisa bacana! Vale à pena conferir.

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Africa Africans - Arte Contemporânea (25/05 - 30/08)
De Terça à Domingo das 10h às 17h (com permanência até as 18h)
Entrada Free.

Museu Afro Brasil
Av. Pedro Álvares de Cabral
Parque Ibirapuera, Portão 10

Para mais informações:
www.museuafrobrasil.org.br

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  1. […] realizada no Museu Afro Brasil em São Paulo, que você pode conferir com mais detalhes aqui) é, sem sombra de dúvidas, a instalação The British Library de Yinka […]

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