Picasso e a Modernidade Espanhola

a exposiçãoCom filas e mais filas a exposição Picasso e a Modernidade Espanhola, que encerrou dia 8/Jun no CCBB de São Paulo, foi um sucesso. O acervo, de quase 90 obras da coleção do Museo Nacional Centro de Arte Reina Sofía, de Madri, se encaminha para o Rio de Janeiro onde a exposição acontecerá de 24/Jun à 7/Set.


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Com curadoria de Eugenio Carmona, professor de História da Arte da Universidade de Málaga, cidade-natal de Picasso, a exposição mostra as diferentes abordagens artísticas do período e cenário que teve Pablo Picasso como protagonista, mas mostra que ele não atuava sozinho. Além de influenciar e inspirar, Picasso também foi influenciado e inspirado por seus contemporâneos do cenário artístico, espanhol e internacional. Nomes que, ao lado de Picasso, ajudaram a amadurecer a noção de modernidade como Juan Miró, Salvador Dalí, Juan Gris, Oscar Dominguez, Julio González, entre outros podem ser conferidos de perto com pinturas, esculturas e gravuras.

A exposição, que foi dividida em oito módulos, mostra o relacionamento artístico de Picasso, que além de pintor foi escultor, ceramista, cenógrafo, poeta e dramaturgo; com seus companheiros espanhóis que revolucionaram o cenário das artes plásticas nas primeiras décadas do século XX. As obras expostas, que são do período entre 1910 e 1963, ajudaram a definir o modernismo internacional e espanhol, e você vai conferir uma à uma, juntamente do texto introdutório de cada módulo da exposição, agora mesmo:

Referências
"Picasso mudou as linguagens e os conceitos da arte, trabalhando com uma fecundidade inigualável. Por essa razão, um dos grandes temas de Picasso foi a representação do trabalho do artista diante da inspiração da figura feminina. Quando, em 1963, Picasso realizou pinturas sobre esse tema, ele encerrou o ciclo da arte moderna. Enquanto evocava os mestres antigos, também promulgava seu senso de plena liberdade figurativa e exaltava as qualidades dos valores plásticos por si mesmos. Na década de 1930, as gravuras de Picasso nos falavam do trabalho do escultor e nos apresentavam a sua relação com o desejo motor da obra. Assistimos ao encontro entre o real e o suprarreal, olhamos o passado a partir da inovação. O Monstro é o alter ego do artista e a relação entre touro e cavalo é o símbolo mais profundo do ser. Em 1963, em suas gravuras, Picasso desenvolve de novo o tema. Agora, o artista idoso é eternamente jovem, graças à sua criatividade e ao seu desejo de criar uma obra-prima ainda desconhecida. Picasso recorre à ironia e ao humor, e a arte é apenas uma rápida interrupção do fluxo existencial." 

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Picasso. Variações
"Picasso abandona a unidade de estilo e de linguagem como sistema de trabalho e utiliza a versatilidade e as 'variações' iconográficas e linguísticas, produzindo assim, simultaneamente, desenhos em diversos estilos. A quem lhe pergunta o motivo, responde que os modos diferentes são 'a mesma coisa'. A diversidade contemporânea de linguagens artísticas não é para Picasso uma exceção, mas a regra, e esta característica se acentua ao longo de sua vida longa e de sua vasta produção. Um mesmo tema, uma mesma figura podem ser elaborados por Picasso com diversas linguagens plásticas em diversos momentos ou simultaneamente: da recuperação do clássico à visão surrealista, passando por um tom expressionista ou pela estrutura cubista. Uma imagem pode ter diversos significados de acordo com o contexto. Picasso prossegue com 'variações' entretidas no sentido musical: reforça o tema, o transforma, o embeleza ou o funde com outros. Raramente uma obra de Picasso é um produto único, sem réplicas, sem reiterações e sem variações."

Exposição - Picasso-8Exposição - Picasso-9Exposição - Picasso-10Exposição - Picasso-11Exposição - Picasso-12Exposição - Picasso-13 O Monstro
"O Minotauro é reconhecido como o alter ego de Picasso, que através dele falou de si mesmo e da condição psíquica da arte e do artista na modernidade. Picasso, que geralmente adotava uma linguagem clássica em sua obra gráfica, criou uma criatura entre o mítico e o real, entre o humano e o selvagem. Em 1933, Picasso faz, de forma explícita, com que o Minotauro e o artista se identifiquem, e enfrenta com liberdade a história mitológica da saga do Minotauro, confundindo-a com a tourada.
Em 1934, ele condena o Minotauro a vagar - cego e errante - guiado por uma criança. O simbolismo da cegueira e a derivação do Minotauro são evidentes na cultura ocidental, ao que Picasso depois acrescenta a iconografia da 'mulher toureiro', jogando com valores paradoxais. Todo esse imaginário picassiano é retomado em 1935, na Minotauromaquia, na qual Picasso busca libertar o monstro através da luz da verdade. Mas em 1936, a vida de Picasso e de todos os espanhóis mudaria radicalmente com a eclosão da Guerra Civil, e a elaboração do Monstro por parte do artista se estendeu até a Tragédia."

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A Tragédia
"Em 1937, o governo republicano encomendou uma pintura de grandes dimensões a Picasso para o pavilhão espanhol da Exposição Universal de Paris. Picasso não havia encontrado inspiração, até que, em 26 de Abril, ocorreu o bombardeio genocida de Guernica, cidade emblemática da cultura e das tradições legislativas do povo basco. Picasso recorreu então ao próprio imaginário, e os temas desenvolvidos nas sagas do Minotauro e da mulher toureiro colocaram-se a serviço da Tragédia. Na grande pintura, o artista desenvolveu uma constelação de relações, dando especial atenção ao cavalo, que é representação simbólica do povo e que por isso aparece unido à mulher que sofre pelo filho morto. O touro na arte de Picasso é representação da brutalidade, mas o artista que, paradoxalmente, ama este animal, o humaniza nos próprios desenhos. na pintura ainda inacabada, aparecem as iconografias da mãe que chora e da cabeça cortada que sofre. Picasso utiliza a cor como uma expressão de dor, mas não de derrota, uma imagem conjunta de sofrimento e luta." 

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Ideia e Forma
"A arte espanhola é geralmente percebida como uma arte expressiva, dramática, na qual  dominam o pathos ou o Barroco, e nunca é identificada com a construção racional e lógica. Esta sala, entretanto, apresenta a contribuição espanhola para a arte analítica e construtiva e a construção formal da obra através de uma ordem racional. Aqui estão reunidas tanto obras abstratas quando figurativas de caráter construtivo, do Cubismo à Arte Concreta, de um período que vai de 1910 a 1959. Esta sensibilidade encontra seu ponto de partida no Cubismo de Picasso de 1910, mas é o Cubismo de Juan Gris que assume a linguagem construtiva da pintura como elemento específico, posteriormente ligado ao Universalismo Construtivo de Joaquín Torres García. A intenção não é simplesmente mostrar uma série de referências concatenadas, mas utilizar diversos episódios da experiência artística espanhola para apresentar os elementos fundamentais da poética da 'forma concreta', que percorrem as diferentes circunstancias históricas, socioeconômicas e políticas, nas quais ela teve que gradualmente se redefinir." 

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Lirismo. Signo e Superfície
"A partir de 1923, uma outra sensibilidade passa a amadurecer na arte moderna. Muitos artistas, especialmente os espanhóis, quiseram unir a arte moderna à intuição, ao instinto, à vontade de fazer com que a pintura e a escultura provocassem sensações equivalentes àquelas suscitadas pela poesia, , mas promovendo a alegria de viver e o fluir, em contraposição ao sentimentalismo. Para esses artistas, trabalhar com signos muito sintéticos e, portanto, minimamente alusivos ao real, significava favorecer uma consciência 'lírica' da realidade. E esses signos se colocavam soltos sobre superfícies preparadas de forma casual ou se inseriam no espaço graças às novas técnicas de escultura. O Surrealismo e a escrita automática contribuíram para o desenvolvimento desse novo 'lirismo plástico'. Picasso o desenvolveu por meio de arabescos, rimas, ou relações entre figuras. Miró sempre buscou encontrar um paralelismo com a poesia em suas 'pinturas oníricas'. Bores inventou a 'pintura-fruta' e desenvolveu com Cossío a 'figuração lírica' que também incitou Togores. Com o uso da soldagem autógena, Julio González é considerado o inventor da escultura moderna em ferro, e sua poética do 'desenho no espaço' exerceu influência sobre Gargallo e sobre toda a escultura do século XX, até chegar ao período pós-guerra espanhol, quando foi retomada na obra de Angel Ferrant."

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Realidade e Suprarrealidade
"As experiências espanholas da modernidade levaram a uma evolução rápida e precoce daquilo que é definido como Realismo Mágico. Mas na arte moderna espanhola também foi estabelecido uma dialética particular entre o real e o suprarreal: a poética do real foi em direção ao Surrealismo, que propôs um novo encontro com a realidade. Picasso levou em conta esse eco em gravuras e desenhos, enquanto que Dalí fez desse deslocamento o princípio de sua teoria sobre a 'paranoia crítica'. Os artistas do Novecentismo espanhol - Sunyer, Arteta, Vázquez Díaz - desviaram-se para uma poética realista, mas através do dramático, do misterioso, do sentido do sonho. José Gutiérrez Solana - pintor da 'Espanha Negra', mesmo não sendo um inovador - fascinou os renovadores com seu realismo voltado para a poética do horror e do sinistro. Em outro momento histórico, Antonio López, fundador do Realismo espanhol pós-guerra, introduziu em suas primeiras obras a presença das sensações de real e irreal." 

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Natureza e Cultura
"A partir de 1927, em muitas obras de Picasso, os personagens se transformam em algo semelhante aos elementos da natureza: é a época das 'Metamorfoses'. Como em Ovídio, as figuras picassianas exploram as aparências e as relações entre minerais, vegetais, animais e humanos, e estabelecem um vínculo profundo. E quando encontramos esta relação e a leitura estética da terra como planeta na arte moderna, estamos diante da 'poética do telúrico': um dos fundamentos da obra de Miró e um dos pontos de partida do Dalí surrealista. Ela exprime o sentido das 'paisagens cósmicas' de Domínguez e está na base da obra de Benjamín Palencia e Alberto Sánchez, da Escuela de Vallecas. A interação entre arte e natureza foi decisiva para que Chilida e Chirino também definissem a própria relação com a escultura. A maioria desses artistas evocou a natureza criadora de forma original e vernacular, e neles a arte moderna, em sua identificação com a natureza original, lançou as bases de sua identidade cultural."

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Rumo a outra Modernidade
"Na década de 1950, Picasso se converteu em mito absoluto, enquanto sua obra deixou de atrair atenção das novas levas de artistas nascidos na sociedade do final do período industrial. Embora Picasso tenha sido o primeiro capaz de criar - em suas colagens e seus objetos - um sentido de artisticidade diferente daquele das 'Belas Artes', o sistema picassiano sempre manteve um diálogo com o museu como um conceito, enquanto que a arte contemporânea se opõe a esta noção. A terceira versão de 'O Pintor e a Modelo' fecha o círculo expositivo da mostra: Picasso reflete sobre a pintura, enquanto Miró a expande e abre para novas concepções. Vicente e Guerrero transferiram a moderna tradição espanhola no âmbito da cultura norte-americana. Saura capturou o gesto do Picasso mais dramático transferindo-o à reflexão sobre a história. Millares uniu a alusão ao vernacular com os interesses da arte internacional, e Tàpies, trabalhando nos conceitos de matéria e de parede, graças a sua vasta cultura, fundou uma nova concepção estética."

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Confira o vídeo querido produzido pelo patrocinador da exposição (valeu Mapfre Brasil!)

https://www.youtube.com/watch?v=hRyFUQ7p0L0

E algumas fotos que valeram a pena levar esporrinhos dos seguranças:

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